A Sociedade Rural Brasileira criou um grupo de trabalho com foco nas métricas de mensuração do balanço de carbono da agropecuária. O objetivo é ter maior clareza sobre os sistemas já disponíveis, para que se avance em práticas sustentáveis, alinhadas com as metas de redução do impacto das mudanças climáticas globalmente. 

A iniciativa foi da produtora rural e associada da SRB, Maressa Resende Vilela Bettencourt. O processo está sendo liderado pelo Comitê de Sustentabilidade da SRB, coordenado pelo empresário Plínio Ribeiro. O primeiro encontro foi realizado na última semana com a participação de mais de 20 especialistas, de entidades como FGV Agro, Esalq-USP, CNA, IBRA, SBC, diferentes unidades da Embrapa (Solo, Agricultura Digital, Meio Ambiente, Florestas, Instrumentação, Territorial e Pecuária), além de empresas como Visiona e Biofílica. “A SRB pretende liderar este movimento, por isso os encontros deste grupo serão periódicos, para dar celeridade às discussões. Estamos muito honrados porque se trata de um time de pesquisadores e especialistas no tema que poderão colaborar muito com o produtor rural, na busca de maior clareza no tema do mercado de carbono”, disse a presidente da entidade, Teresa Vendramini.

Um dos convidados é o professor Eduardo Assad, que atuou por 35 anos na Embrapa e hoje faz parte do Observatório de Bioeconomia da FGV, além de atuar junto à Unicamp. Ele destacou o sucesso do projeto ABC (Agricultura de Baixo Carbono) que já tem mais de 10 anos e vem avançando gradativamente, incentivando práticas que sequestrem carbono e reduzam emissões de gases causadores do efeito estufa. “Apesar dos avanços, é preciso dizer que o Brasil deve ampliar os recursos destinados a este programa, não bastam R$ 5 bilhões, precisamos de R$ 50 bilhões para atender a demanda que vem pela frente”, afirmou Assad. 

O pesquisador da Embrapa Instrumentação, Ladislau Martin,  parabenizou a iniciativa e destacou que essa agenda é de protagonismo brasileiro. “O Brasil tem um balanço positivo. Com o manejo convencional, passamos a ser um sequestrador de carbono, isso está registrado na literatura internacional. Acumular carbono no solo brasileiro é imperativo”, disse.  Já o pesquisador da FGV Agro, Daniel Vargas, fez um alerta sobre as métricas de carbono que precisam ser definidas dentro da realidade brasileira, considerando a agricultura tropical. “Esses parâmetros tropicais ajustados à nossa realidade é um passo decisivo para o avanço do tema carbono no Brasil”, afirmou Vargas. 

A produtora Maressa Bettencourt destacou que ainda há informações desencontradas como por exemplo a relação entre o metano e o carbono equivalente, mencionando que já ouviu diferentes números durante encontros em importantes fóruns ligados ao setor produtivo. Para o pesquisador Eduardo Assad, as métricas já estão definidas, são aquelas estabelecidas pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) e o GWP100. Durante o encontro, empresas também apresentaram novas tecnologias como o uso de laser e imagens de satélite para mensurar o balanço de carbono na agropecuária. Para a SRB, o primeiro passo deste trabalho é tratar das métricas e ter clareza. “Somente a partir disso poderemos inserir o debate econômico, tratar do mercado de carbono e do pagamento por serviços ambientais”, afirmou Maressa.