A lógica do comércio internacional está mudando e o agronegócio brasileiro deve apostar no diálogo para seguir crescendo nas exportações. O alerta foi feito pela atual diretora de Relações Internacionais da FIESP, Tatiana Prazeres, que foi a convidada especial da reunião de novembro do Comitê de Relações Internacionais da Sociedade Rural Brasileira (SRB). 

Um dos temas em destaque foi o chamado “Green Deal”, legislação aprovada pelos países da União Europeia que poderá restringir as importações de produtos que estejam associados ao desmatamento. Tatiana Prazeres destacou que 77% da pauta das exportações do agronegócio brasileiro para o bloco europeu faz parte desta lista de produtos que podem ser impactados. 

A diretora da FIESP recomenda que o Brasil busque reforçar o diálogo com o Parlamento Europeu e com os importadores, mas também admite que se preste atenção a eventuais violações ao Direito Internacional. 

“Lidar com política comercial hoje está muito desafiador, as regras mudaram, é claro que o sistema que está sendo implementado pelos europeus talvez nao seja a melhor maneira de medir as emissões de carbono, mas é ainda pior se pensarmos sob o ponto de vista comercial, afinal uma única região está saindo na frente e definindo suas regras”, afirmou Tatiana Prazeres, que já trabalhou na Organização Mundial do Comércio (OMC) e foi secretária de Comércio Exterior no Brasil. 

A situação preocupa porque, ao contrário do que ocorria anos atrás, é muito difícil contestar na OMC medidas que estejam ancoradas na tendência atual de exigir padrões de sustentabilidade e conduta ambiental – que muitas vezes ainda traz junto medidas protecionistas, disse ela. 

Para a presidente da SRB, Teresa Vendramini, que participou do encontro, os dados apresentados pela especialista só reforçam a crença de que o futuro do Brasil é se consolidar como potência agroambiental, atendendo a demanda crescente por segurança alimentar, mundialmente. 

A reunião do comitê da SRB foi liderada por Claudia Costa e Amanda Araújo e contou com a participação de importantes parceiros da entidade, como representantes da CNA, da ABIEC, além do vice-presidente e ex-presidente da SRB, Sergio Bortolozzo e Marcelo Vieira, respectivamente. 

Também foram discutidos no encontro temas como a tendência da China de investir mais no mercado doméstico, o que traz riscos para o agro, mas não elimina oportunidades de crescimento para o setor. O conflito entre Rússia e Ucrânia e a postura dos Estados Unidos de monitorar investimentos chineses e adotar exigências ambientais, em detrimento do debate puramente comercial, também são fatores que devem influenciar o comercio internacional daqui pra frente, ressaltou a especialista.