Problemas climáticos e preços em queda nos últimos meses preocupam os produtores de café, mas o mercado pode apresentar melhora em 2023. A opinião é do superintendente comercial da Cooxupé, Lúcio de Araújo Dias, que foi o convidado especial da última reunião do Departamento do Café da Sociedade Rural Brasileira (SRB), realizada neste mês de dezembro.

Durante o encontro, liderado pelo  ex-presidente da SRB e coordenador do Departamento do Café, Marcelo Vieira, os cafeicultores e os especialistas convidados, analisaram o cenário das últimas safras marcado pela quebra na produção em função da seca e da geada desde 2020, e dos episódios recentes de granizo em 2022. 

Ao mesmo tempo em que contabilizam perdas na produtividade, os cafeicultores foram surpreendidos a partir de outubro deste ano por uma queda acentuada nas cotações do grão na Bolsa de Nova York, que é referência para o setor, e também no mercado brasileiro. Em meados de setembro o café arábica era comercializado por aproximadamente R$ 1.300 por saca, mas em novembro já estava abaixo de R$ 1.000 por saca. 

O superintendente da Cooxupé explicou que, enquanto os brasileiros cuidavam das dificuldades no campo, muitos não perceberam um movimento que ocorria lá fora, que era o aumento dos estoques de café das grandes tradings do setor, o que contribuiu para a queda nos preços. Além disso, destacou que o mercado financeiro, que segue muito influenciado pela expectativa de recessão nas principais economias do mundo, historicamente afeta os preços do café, que com frequência se descolam dos fundamentos de oferta e demanda. “O principal fator que fez o mercado cair, apesar da safra menor, foi a concorrência com os grandes estoques que estavam na mão destes comerciantes“, destacou Lúcio Dias. 

A boa notícia é que, segundo o diretor da Cooxupé, a expectativa é que preços melhores sejam vistos nos próximos meses, embora esta recuperação dificilmente seja significativa. Um dos fatores que deve ser determinante é o pegamento da florada que foi ruim, o que poderá novamente reduzir as produtividades. 

Outro participante da reunião promovida pela SRB, o consultor agronômico  Guy Carvalho, mostrou números que exemplificam esta situação dos cafezais. Em fazendas acompanhadas por ele, foram vistas médias de produtividade próximas de 50 sacas/hectare(ha) em 2020, na seca severa de 2021, quando houve grandes perdas, estas médias ficaram abaixo de 20 sacas/ha, em 2022 o número subiu para 27 sacas/ha, mas segundo o especialista, com os problemas recentes, a expectativa é cair novamente, para cerca de 24 sacas/ha em 2023, principalmente em função do granizo. 

Lúcio Dias acredita que nos próximos meses estes efeitos no campo sejam percebidos por quem faz previsões internacionais sobre a produção de café no Brasil e no mundo, o pode melhorar o cenário de preços ao cafeicultor. Mas ele admite que as estimativas que vêm sendo consideradas por empresas exportadoras que atuam em Santos ainda estariam muito elevadas, distantes desta realidade. Na opinião do superintendente da Cooxupé, a próxima safra deve ficar próxima do que foi produzido em 2021/22, mas ainda não há uma estimativa definida. 

A consultoria Hedgepoint projeta produção de café arábica em 2023/24 entre 44,4 milhões e 46,4 milhões de sacas, acima das 36 milhões de sacas em 2022/23, mas bem abaixo dos recordes registrados em safras anteriores.