Novo governo deverá trazer até US$ 120 bilhões em capital produtivo para o Brasil. As áreas que estão na mira são o agronegócio e a infraestrutura

A tinta da assinatura no termo de posse na Presidência da República ainda não havia secado e Michel Temer já havia entregue o cargo para o deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente de Câmara. Não, não era uma fuga do trabalho. Muito pelo contrário. O descendente de libaneses embarcou para o outro lado do mundo, rumo à reunião do G-20 na China, para o que sabe fazer de melhor: seduzir os empresários e investidores internacionais, convencendo-os que é hora de desengavetar projetos de investimento no Brasil, especialmente os de infraestrutura e os voltados para o agronegócio.

A chegada de um governo pró-mercado deve destravar o fluxo de capital produtivo internacional para a economia brasileira. Gustavo Junqueira, presidente da Sociedade Rural Brasileira, diz estar otimista. Ele avalia que o agronegócio pode atrair US$ 30 bilhões em capital produtivo. O necessário é alterar uma regra que afasta o dinheiro. “Precisamos reverter uma decisão ideológica e retrógrada da AGU, de 2010, que proibiu a compra de terras pelos investidores estrangeiros”, diz ele, referindo-se à Advocacia Geral da União. “Além de afastar o capital, isso afeta o crédito.”

Junqueira explica que essa proibição impede os investimentos diretos e barra os bancos internacionais de conceder empréstimos ao agronegócio recebendo terras como garantia. “No caso de inadimplência, o banco não pode executar a garantia, e não empresta.” O primeiro setor do agronegócio a atrair dinheiro é o de papel e celulose. As empresas internacionais desejam aproveitar as condições favoráveis para produzir aqui, mas querem terra própria para plantar eucalipto e garantir a matéria-prima. “O mundo não ficou parado à espera do Brasil, e investimentos, que estavam engatilhados até 2010, foram direcionados para a África ou para o Sudeste Asiático, e oportunidades foram perdidas”, diz Junqueira.

Os números da infraestrutura não estão consolidados. No entanto, é possível fazer cálculos. Em abril, poucos dias antes o afastamento de Dilma, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) entregou a Temer o Mapa Estratégico da Indústria 2013-2022. Nesse documento, a CNI estimou que os investimentos em infraestrutura vêm oscilando ao redor de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Esse percentual, avalia a CNI, deveria dobrar, para 5% do PIB. Os 2,5 pontos percentuais a mais representam um influxo de US$ 40 bilhões, pelo PIB de 2015. Os bons ventos esperados no setor produtivo já animaram o mercado financeiro e puxaram os preços das ações. Segundo a empresa de dados Economatica, o Índice Bovespa subiu 33,57% no ano, até a quarta-feira 31.

Considerando-se os períodos entre janeiro e agosto, o avanço de 2016 foi o sétimo maior desde 1995. Para comparar, nos períodos entre janeiro e agosto de 2011 a 2015, no primeiro e no início do segundo mandato de Dilma Rousseff, o Índice Bovespa amargou uma queda média anual de 8,5%. O dinheiro que já veio para o Brasil fez o real apreciar-se em relação ao dólar. Assim, segundo um levantamento da agência Bloomberg, em dólares, o Índice Bovespa valorizou-se 63%, a maior alta entre 90 indicadores de mercado acompanhados pela agência. Segundo gestores internacionais, apesar de as maiores altas terem sido de empresas produtoras de commodities, as principais apostas são de empresas voltadas para o mercado interno, de olho em uma retomada do crescimento econômico.

A antecipação da saída definitiva de Dilma já espalhou lucros pelo mercado e essa bonança deve continuar. O mais recente relatório da empresa americana de análise de fundos Eureka Hedge, que analisa o comportamento de 21.825 fundos de hedge internacionais, afirma que os gestores latino-americanos lideraram em rentabilidade no mês de julho, com um ganho médio de 6,3%, quase o triplo da média mundial, que foi de 2,34%. A principal causa foi a valorização de 11,22% na Bolsa brasileira em julho. Um levantamento da consultoria KPMG e do banco BTG Pactual estima que os investimentos em portfólio, como são chamadas as aplicações no mercado financeiro, podem chegar a US$ 50 bilhões em dinheiro novo. Somados ao agronegócio e à infraestrutura, serão US$ 120 bilhões em capital para financiar a produção e o emprego.

Apetite não falta. A publicação especializada americana Investment News classificou a troca de Dilma por Temer como a chegada de um governo mais amigável ao mercado, e colocou o Brasil na lista de países que oferecem boas oportunidades de investimento. Outra voz otimista é a de um peso-pesado, o gestor americano Bill Gross, fundador e ex-presidente da Pimco, maior administradora de fundos de renda fixa do mundo. Hoje na Janus Capital Group, Gross administra US$ 177 bilhões e suas avaliações de mercado só perdem em popularidade para as de Warren Buffett. E ele é taxativo. “Ainda há perspectivas de melhora para o mercado brasileiro”, disse Gross em uma apresentação a investidores na quinta-feira, dia 1º.

Fonte: Istoé Dinheiro