A Sociedade Rural Brasileira traz mais um estudo sobre as perspectivas da agropecuária brasileira para avançar no mercado de carbono, o que inclui práticas que contribuam com a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa e, futuramente, maior compensação financeira ao setor. 

Na série de discussões promovidas pelo Grupo de Trabalho de Mensuração de Carbono no Solo da SRB, uma das convidadas foi a pesquisadora da Embrapa Florestas, Josileia Acordi Zanatta, que vem se dedicando ao tema das mudanças climáticas e solos florestais. Sobre o tema da ‘Mudança de Uso da Terra’, ela mostrou como a metodologia adotada para avaliar o carbono no solo, nas chamadas conversões, quando muda o uso da terra em determinada área, está sendo aperfeiçoado com a contribuição dos pesquisadores brasileiros. 

As regras utilizadas internacionalmente pelo IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas criado pela ONU – são de 2006 e foram aperfeiçoadas em 2019. “Com este modelo do IPCC, quando entrava plantio florestal em determinada área, o solo era penalizado com 33% de redução no estoque de carbono, independente do uso anterior e ao longo do tempo vários especialistas começaram a ressaltar que os indicadores estariam equivocados para representar a condição dos sistemas produtivos do Brasil, por isso começaram a reunir estudos sobre o tema”, explicou a pesquisadora da Embrapa. 

A boa notícia é que estes estudos recentes liderados pelos brasileiros demonstraram contribuições positivas de determinados sistemas agroflorestais para um maior sequestro de carbono no solo e, consequentemente, ganhos econômicos e ambientais. A partir desta iniciativa, passou-se a utilizar o IAC – Índice de Alteração de Carbono no solo, com base em dados nacionais que levam em conta o clima e o sistema de produção utilizado, reunidos no documento disponível no link: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/217027/1/Livro-Doc-342-1804-final-2.pdf 

Foram observadas especialmente áreas da região Centro-Sul do Brasil, focando em dados de conversão de vegetação nativa, pastagens e agricultura, para cultivos florestais de pinus, eucalipto e acácia negra. No caso de transformar uma área nativa em floresta plantada houve perda de carbono no solo, mas Josileia Zanatta explicou que, baseado no mapeamento realizado pela Inventário Nacional em 2021, essa conversão é pouco expressiva. Predomina a conversão de pastagens para cultivos florestais, onde a conversão de pastagem para o cultivo do eucalipto aumentou 11% o estoque de carbono no solo. E no caso de agricultura para floresta, a alteração no índice de carbono no solo ficou neutra. 

“O resultado deste esforço é que no último inventário nacional publicado em 2021 o índice de alteração do carbono no solo para os plantios florestais ficou em 0,95 e não em 0,67 como o cálculo anterior indicava”, contou Zanatta. Na prática, quer dizer que a perda de carbono no solo não é de 33%, mas sim de 5%. 

Práticas Sustentáveis

Os estudos também demonstram ganhos exponenciais no balanço de carbono a partir da utilização do sistema de plantio direto e da ILPF – Integração Lavoura Pecuária e Floresta. 

“O plantio direto, quando aliado à rotação de culturas, traz ganhos ainda maiores e representa grande oportunidade de créditos de carbono, com o uso de leguminosas para aumentar a matéria orgânica no solo”, afirmou Josileia. Segundo estudos de metanálise com dados mundiais, o plantio direto proporciona ganho médios de 6 a 8 toneladas no estoque de carbono do solo se comparado ao preparo convencional. 

A pesquisadora alerta, no entanto, que não basta apenas deixar de arar o solo, já que o sistema de plantio direto é caracterizado por práticas mais amplas de rotação de culturas, que garantam o conceito de adicionalidade na linguagem do mercado de carbono; o carbono precisa persistir no solo, para que vire crédito e “o carbono precisa ser íntegro”, ou seja, as práticas adotadas para capturar esse carbono não podem gerar emissões não contabilizadas ou fugas, e tudo isso precisa ser atestado por padrões de qualidade, explicou.  

A adoção de sistemas como a ILPF – Integração Lavoura Pecuária Floresta – também são alternativas interessantes para incrementar o carbono do solo, tanto a pastagem quanto do cultivo florestal cultivados em monocultivo. Vários estudos no Brasil já tem evidenciado esse ganho ambiental.

A apresentação completa da pesquisadora da Embrapa Florestas, Josileia Acordi Zanatta, está no Canal da SRB no YouTube, que possui uma playlist exclusiva sobre mensuração de carbono. Assista, clicando aqui!