Em entrevista ao 247, o vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira e pecuarista Pedro de Camargo Neto classifica como “equivocada” e “irresponsável” a comunicação da Polícia Federal ao divulgar a Operação Carne Fraca há uma semana; “Ela apresentou uma investigação positiva contra a corrupção, que tem que acontecer mesmo, mas também apontou problemas na qualidade da carne, e ela não estava preparada para analisar a qualidade da carne”, avalia; para ele, “os problemas pontuais não poderiam ser usados para colocar o todo em risco e criar desconfiança no consumidor”; “Eles têm que consertar isso, porque nós estamos pagando a conta”, cobra o líder da SRB; a entidade, que representa os produtores rurais, enviou uma carta à PF pedindo “mais cuidado para o que for falar daqui para frente”; assista à entrevista

Uma semana depois da deflagração da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, na última sexta-feira 17, a comunicação sobre a investigação por parte dos delegados da PF recebeu críticas do setor agropecuário – segundo os investigadores, já esperadas – internas e de ministro do Supremo Tribunal Federal – Gilmar Mendes.

Em entrevista ao 247 na quinta-feira 23, na sede da Sociedade Rural Brasileira, em São Paulo, o vice-presidente da entidade que representa os produtores rurais, Pedro de Camargo Neto, classificou essa divulgação como “equivocada” e “irresponsável”, fazendo com que o produtor, que não está envolvido com irregularidades, “pague a conta” do prejuízo.

O presidente da Associação de Delegados da Polícia Federal, o delegado Carlos Eduardo Sobral, viu “erro de comunicação” por parte da corporação. O problema, na avaliação de Sobral, feita na segunda-feira 20, foi classificá-la como a “maior operação” da PF, o que gerou uma repercussão com interpretações equivocadas, sem explicar que isso se referia à quantidade de mandados, não em valores, e dar a entender que se tratava de um problema sistêmico do setor.

A investigação existe há dois anos, tempo que a PF apura a suspeita de que funcionários de frigoríficos de algumas subsidiárias de empresas de alimentos teriam pago propina a fiscais agropecuários para terem liberados produtos fora das normais legais de venda e consumo, como validade da carne. A operação atingiu mais de 70 empresas e interditou três unidades. Foram decretadas 27 prisões preventivas, 11 temporárias e 77 conduções coercitivas – quando a pessoa é levada para prestar depoimento, além de 194 mandados de busca e apreensão.

“Quanto mais a gente analisava a operação e a comunicação da Polícia Federal, mais a gente via que ela tinha sido equivocada, para não usar a palavra irresponsável novamente, mas foi irresponsável mesmo, porque ela apresentou uma investigação positiva contra a corrupção, que tem que acontecer mesmo, mas uma investigação contra a qualidade da carne. E ela não estava preparada para analisar a qualidade da carne. Até porque quem faz isso é a sanidade, veterinário, o próprio Ministério da Agricultura tem o poder disso”, avaliou o vice-presidente da SRB.

A entidade enviou uma carta à Polícia Federal dizendo que os produtores estão pagando a conta indevida por conta da operação. “Estamos dizendo a eles para que a operação prossiga, mas que a PF tenha mais cuidado para o que for falar daqui para frente. Então falaram que vão sair mais provas, ok, que saiam mais provas, mas sobre corrupção né, porque a gente sabe que análise técnica não foi feita. Então transmita para a população: ‘olha, tem um fiscal corrupto, tem uma empresa corruptora’, mas não ‘não coma carne’, que é quase o que foi feito”, detalha.

Em sua opinião, “os problemas pontuais não poderiam ser usados para colocar o todo em risco e criar desconfiança no consumidor”. “O fato é que foi mal apresentado. E levou o produtor a pagar com o custo desse erro”, diz. “Divulgou como se fosse o maior crime do Brasil, divulgou mal. Então o maior crime do Brasil é vender carne estragada? Não é verdade isso”, completa. Ele atesta que o processo de produção de carnes no Brasil, segundo maior exportação desse produto no mundo, é limpo e seguro. “A fiscalização do Ministério da Agricultura é boa e praticamente toda semana tem algum estrangeiro olhando. Ninguém importa sem vir aqui antes. Então não pode ser ruim”, conta.

Até a noite de quarta-feira 22, segundo o Mapa, ao menos 11 países suspenderam temporária ou integralmente a importação de carne brasileira e seus derivados: China; Chile; Egito; Argélia; Jamaica; Trinidad Tobago; Panamá; Catar; México e Bahamas, além de Hong Kong, que tem o status de Região Administrativa Especial da China. A União Europeia deixou de comprar aves e suínos de três plantas investigadas pela PF, além de carne bovina e derivados de uma planta.

“Embora eu avaliasse que ocorresse menos prejuízo, eu continuo otimista. Eu acho que com transparência, competência, a gente vai convencer o consumidor brasileiro e o estrangeiro que a questão é pontual, não é sistêmica”, prevê Camargo Neto, que também é pecuarista. “Estamos num regime de urgência, precisamos resolver logo isso aqui”, alerta.

Fonte: Brasil 247