Você já deve ter ouvido falar na sigla ESG (Environmental, Social and Governance) que na tradução para o português está relacionada as melhores práticas ambientais, sociais e de governança. Cada vez mais as empresas e os investidores querem estar próximos dos ativos “lastreados” nesta sigla porque serão sinônimo de negócios sólidos, de baixo custo de capital e sustentáveis do ponto de vista ambiental, social e econômico.

O agronegócio brasileiro se sente preparado para esta nova era. Isso porque combinar produção agropecuária e preservação do meio ambiente não é uma possibilidade, é uma realidade em diversas regiões do Brasil, tudo baseado em ciência e responsabilidade. A Sociedade Rural Brasileira decidiu publicar este artigo para reforçar dados que, em alguns momentos, podem passar despercebidos pela sociedade. A agropecuária cresceu, evoluiu, passou a bater recordes de produtividade e, ao mesmo tempo, vem multiplicando a adoção de práticas sustentáveis, o respeito as leis e a contribuição para o desenvolvimento socioeconômico sustentável no Brasil, inclusive da Amazônia.

A tradição de acreditar na ciência começou há pelo menos cinco décadas. Em entrevista recente ao jornal Zero Hora, o ex-ministro da Agricultura Luiz Fernando Cirne Lima lembrou que em 1970 o Brasil ainda importava grande quantidade de alimentos e estava claro que, para expandir a produção de grãos e carnes, era necessário investir em tecnologia e expandir a fronteira agrícola. Após a construção de Brasília, houve a “marcha para o oeste”, produtores rurais especialmente dos estados do sul do Brasil foram convidados pelo governo para migrar para estas regiões – com a promessa de receber a titulação das terras. Enquanto isso, Cirne Lima criava a CPRM, órgão que depois daria origem a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), que garantiria o desenvolvimento de tecnologias adaptadas a realidade brasileira. Sob o comando de outro ex-ministro, o engenheiro agrônomo Alysson Paolinelli, a Embrapa promoveu diversas revoluções na agricultura, a principal delas foi a adaptação da soja às condições de clima e solo do Cerrado.

No início dos anos 2000, o agro brasileiro avançou mais uma vez com base nas pesquisas, derrubando dogmas de ambientalistas que aterrorizavam a sociedade sobre eventuais riscos da liberação das sementes transgênicas. No caso da soja transgênica, que hoje corresponde a mais de 90% da safra brasileira, o tempo mostrou que o então ministro da Agricultura na época, Roberto Rodrigues, estava certo ao acreditar nos benefícios que a biotecnologia poderia trazer. O principal avanço foi ambiental, houve uma redução de 36% na aplicação de agroquímicos na soja com a migração da semente convencional para a transgênica, ao mesmo tempo garantindo ganhos em produtividade. Pesquisadores da Embrapa reafirmam até hoje que os produtos transgênicos são seguros e podem ser consumidos sem medo, porque só são liberados após testes rigorosos em laboratório e a campo. No Brasil, a supervisão deste mercado é feita pela CTNbio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança).

Foi assim que ao longo de 40 anos, com ciência, inovação e acima de tudo, empreendedorismo, o Brasil deixou de ser importador de alimentos e hoje aparece como um dos maiores exportadores do mundo.

É um processo em constante evolução, com mudanças recentes no campo que seguem esta mesma direção da sustentabilidade. Um dos exemplos é o crescimento expressivo do uso de biodefensivos nas lavouras, um mercado que deve crescer 30% em 2020. São produtos biológicos, que evitam qualquer tipo de contaminação do solo e da água, garantindo o controle de pragas e doenças, sem prejuízo a produtividade.

A pecuária de corte, tantas vezes envolvida em discussões sobre meio ambiente, também tem contribuído para o reflorestamento.  A Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF) já é adotada em 11,5 milhões de hectares no Brasil, segundo dados da Embrapa.  O sistema garante diversos ganhos ambientais como redução das emissões de gases de efeito estufa, controle da erosão, fixação de carbono, bem-estar animal, além de benefícios sociais e econômicos.

Por fim, vale mencionar também que o Brasil tem a matriz energética mais limpa do mundo, ao usar hidrelétricas, energia eólica, energia solar e principalmente pelo uso do etanol, biocombustível produzido a partir da cana de açúcar e hoje já também a partir de resíduos como bagaço da cana. Empresários do setor afirmam que é necessário criar uma campanha para mostrar ao mundo a modernidade do agronegócio.

 

A IMPORTÂNCIA DA AMAZÔNIA

Baseada nesta história de compromisso com o desenvolvimento socioeconômico sustentável, a Sociedade Rural Brasileira quer reafirmar alguns dados relativos ao bioma Amazônia. A entidade entende que as discussões sobre esta região têm ficado restritas aos temas queimadas e desmatamento, que muitas vezes se distanciam da realidade dos fatos e de uma visão mais holística sobre os desafios que este patrimônio da humanidade ainda apresenta. Para aqueles que ainda duvidam da capacidade do agro nacional de conciliar produção e preservação, seguem algumas informações:

  • A produção brasileira de grãos cresceu 300% entre 1997 e 2020, segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Neste mesmo período, a área plantada avançou apenas 60%, demonstrando o aumento da produtividade, o maior uso de tecnologias nas fazendas e contribuindo para a preservação de milhões de hectares.
  • Apenas 9,8% da soja, 7,6% do milho e 0,5% da cana de açúcar produzidos no Brasil são plantados na região que compreende o Bioma Amazônia. Quer dizer, os principais produtos da pauta exportadora não precisariam da Amazônia para os resultados que hoje alcançam. É o inverso. Quem precisa da agropecuária são os 25 milhões de habitantes da região.
  • Estudos da Embrapa Territorial indicam que 84,1% das florestas da Amazônia permanecem intactas. Somente 12,8% das áreas são destinadas a lavouras e pastagens. Os pesquisadores também constataram que, até agosto de 2018, estavam registrados no Cadastro Ambiental Rural (CAR), no bioma Amazônia, um total de 468 mil imóveis rurais. Aproximando imagens de satélite, verificaram que estas propriedades preservam mais de 103 milhões de hectares de vegetação nativa – é o equivalente a 24% do bioma e 64% da área total das fazendas.
  • A estimativa é de que atualmente haja 1 milhão de produtores rurais ativos na região amazônica, que compreende 500 municípios. É uma agropecuária altamente diversificada, quase 90% são pequenos agricultores, dos mais simples sistemas extrativistas, passando pelas modernas fazendas de grãos e algodão no norte de Mato Grosso, até os produtores de origem japonesa, campeões na produção de pimenta-do-reino no Pará, conforme menciona em artigo o chefe geral da Embrapa Territorial Evaristo de Miranda.
  • São milhares de empregos gerados a partir da agropecuária, que garantem o sustento de boa parte da população da Amazônia. Em vários municípios os indicadores socioeconômicos ainda aparecem como os piores do Brasil, mas nas áreas em que o agronegócio moderno se desenvolveu, houve evidente melhora nos índices de desenvolvimento humano. No Pará, por exemplo, os principais municípios com atividade agropecuária desenvolvida, mesmo através da agricultura familiar, apresentam os melhores IDHs do estado, só perdendo para a região metropolitana de Belém. É o caso de Parauapebas, Redenção, Marabá, entre outros.

 

Com base nestas informações, cabe dizer que o agronegócio pode até não precisar da Amazônia para crescer, porém a população da Amazônia precisa das atividades agropecuárias para sobreviver e seguir no caminho do desenvolvimento socioeconômico sustentável. Só assim será possível também proteger a soberania nacional sobre a região. A SRB ressalta que o Brasil é o guardião desta riqueza, deste patrimônio da humanidade que é a Amazônia. A entidade vai agir de forma proativa, mostrando ao mundo como os avanços tecnológicos vem permitindo que o agronegócio cresça sem prejuízo a preservação das florestas.

A presidente da SRB, Teresa Vendramini, foi escolhida como uma das sete integrantes do Conselho Consultivo da Amazônia, iniciativa dos três maiores bancos privados do Brasil – Itaú, Bradesco e Santander – com o objetivo de definir um plano de ações com foco no desenvolvimento sustentável da região. A entidade é a única representante do setor produtivo neste grupo, por isso destaca os principais pilares de suas posições, que vão nortear o diálogo:

  • A Sociedade Rural Brasileira representa a agropecuária do País e defende os interesses dos produtores rurais que respeitam as leis. Possui caráter apartidário e pretende seguir firme na defesa deste segmento a partir de uma pauta positiva e proativa. A SRB condena os ataques que o agronegócio vem sofrendo por movimentos que desconhecem os dados reais do setor, mas não vai se envolver em questões políticas e ideológicas, que muitas vezes acabam pautando vozes radicais.
  • A SRB acredita que uma das prioridades do Plano Amazônia deve ser a regularização fundiária. Milhares de produtores rurais, a maioria da agricultura familiar, estão sendo penalizados pela falta de titulação das terras e pela impossibilidade de uma verificação efetiva sobre o cumprimento das leis. Muitos deles são confundidos com grileiros ou fazendeiros ilegais, colocando em risco a sobrevivência de milhares de famílias. A entidade entende que os setores público, privado e a sociedade civil podem atuar juntos para viabilizar a aprovação e implementação da regularização fundiária nestas regiões.
  • A Sociedade Rural Brasileira solicita que o novo Código Florestal Brasileiro, aprovado em 2012 após amplas discussões com todos os segmentos da sociedade, seja efetivamente cumprido, regulamentado e fiscalizado. A SRB quer manifestar o seu protesto em relação à guerra de ações contra os produtores rurais que tem surgido, inclusive junto a cortes superiores, na tentativa de invalidar esta legislação. A entidade sugere que o Plano Amazônia atue na viabilização de recursos financeiros para a consolidação do CAR (Cadastro Ambiental Rural), eixo fundamental do novo Código Florestal Brasileiro. Uma das frentes deve ser o financiamento para o avanço do georreferenciamento.
  • A SRB entende que a iniciativa que está sendo liderada pelos bancos pode trazer o incentivo que estes produtores rurais necessitam para o enquadramento as normas exigidas pelo mercado consumidor, oficializando as boas práticas já adotadas e consolidando a atividade como adequada aos critérios “ESG”, o lastro verde, que citamos no início deste artigo. Na opinião da SRB, o avanço da agropecuária moderna, tecnificada e eficaz, trará muitos ganhos ambientais ao País. Nas discussões sobre mudanças climáticas, por exemplo, a agropecuária brasileira deve aparecer como solução e não como causa.
  • Com a adoção destas medidas, o desmatamento tenderá a zero naturalmente, em curto espaço de tempo. A SRB ressalta, no entanto, que lideranças que afirmam “não podemos derrubar mais uma árvore sequer” se distanciam da realidade, a medida que inviabilizam, por exemplo, as políticas de recuperação de áreas de pastagens degradadas, conforme estabelece o Código Florestal Brasileiro.
  • Apoiamos a tese de uma abordagem mais ampla na definição do Plano Amazônia, que vá além do tema queimada e desmatamento. De acordo o pesquisador da Embrapa Territorial, Gustavo Spadotti Castro, as soluções passam pelo respeito a população que vive no bioma Amazônia e também por cinco pilares: natural (clima, solo, relevo), agrário (atribuição de terras indígenas, cadastramento no CAR, entre outros temas), agrícola (a importância das principais atividades agropecuárias da região), infraestrutura (atualmente pelo menos 30% dos grãos exportados tem como caminho o Arco Norte) e socioeconômico (os aspectos relacionados a renda, PIB e IDH na região).
  • O momento conturbado que vive o País, com excesso de polarização política, exige determinação e diálogo. A SRB entende que somente desta forma será possível contrapor os dogmas ambientalistas, avançando a favor do desenvolvimento socioeconômico sustentável, que só a agropecuária pode produzir.