Asiáticos nos veem como um gigante na produção de alimentos

Por Blairo Maggi*

Nossa missão na Ásia tem sido importante, não apenas para a abertura de novas oportunidades e ampliação das nossas relações comerciais, mas também pelo aprendizado sobre como somos percebidos, como devemos agir e o que os países asiáticos esperam de nós. Somos vistos como um gigante na produção de alimentos de qualidade e uma potência tecnológica no agronegócio. Países como China, Vietnã, Coreia, Tailândia e Mianmar nos surpreenderam com demandas sobre acordos na área do conhecimento e da tecnologia gerados pela Embrapa. E nós os surpreendemos ao mostrar que o Brasil é um país com uma agricultura sustentável e que preservou 61% do seu território.

O crescimento da classe média asiática já é uma realidade. O Vietnã, por exemplo, foi reconstruído depois de dizimado por uma guerra. Andando por Hanói, é possível perceber o quanto eles avançaram e ainda vão avançar. A frota de carros é muito nova, os supermercados oferecem uma enorme variedade de produtos, e o café tomou o lugar do chá como bebida nacional.

Mianmar está vivendo uma renovação política e sonha se desenvolver como um importante produtor de alimentos. O país parece parado no tempo, não só pelas roupas das pessoas e os carros antigos, mas também pela agricultura de carro de boi, parecida com a do Brasil dos anos 60 e 70.

Nossa viagem à Ásia foi para preparar e plantar. Por isso, ela precisa ter continuidade através do trabalho do Ministério da Agricultura — que agora terá um grande dever de casa — e também dos nossos diplomatas e dos empresários que nos acompanham. Em todas as cidades onde passamos, a presença de empresários locais superou as expectativas, e isso gerou rodadas de negócios altamente produtivas.

Também fiquei surpreendido positivamente com a presença de empresas brasileiras na Ásia como a Marfrig e a BRF. Elas geram empregos nas duas pontas: importam carnes bovinas, suína e de aves do Brasil, processam em suas plantas asiáticas e distribuem para importantes redes de fast food e supermercados. É uma operação onde os dois lados ganham. Os empresários brasileiros têm dado exemplo de criatividade, qualidade e eficiência. Numa unidade da BRF da Tailândia trabalham cinco mil empregados de três nacionalidades diferentes. Na Marfrig da China e da Coreia, o alto grau de automação e controle de qualidade se tornou referência no mercado local.

Tenho certeza de que quanto mais focarmos no mercado asiático, mais rápido colheremos resultados para o país. Eles precisam mais de nós neste momento do que outros parceiros. O Brasil necessita gerar cada vez mais exportações para sair da crise com segurança, criando empregos e recuperando a renda dos nossos trabalhadores.

O agronegócio é o caminho para acelerarmos a recuperação econômica, porque o mundo não vive sem comida. Os árabes vendem combustível para veículos; nós, para a vida. Uns vendem tecnologia de informática; nós, de produção alimentar. O Brasil é hoje o segundo maior produtor de alimentos do planeta. Queremos ser o primeiro.

*Blairo Maggi é ministro da Agricultura

Fonte: http://oglobo.globo.com/opiniao/negocios-da-asia-20148300