‘É fundamental contarmos com mecanismo para superar barreiras ao comércio’, disse o ministro brasileiro da agricultura

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, defendeu nesta sexta-feira (16) em encontro dos Brics em Nanjing, na China, que os países do bloco – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – ampliem o fluxo de comércio e de investimento agropecuário e agroindustrial. Maggi propôs a criação de um grupo de trabalho para trabalhar o assunto.

“Precisamos nos esforçar para sairmos deste encontro com diretrizes para atingir resultados que beneficiem as populações que representamos. É fundamental contarmos com mecanismo para superar barreiras ao comércio”, afirmou na ocasião, segundo nota distribuída por sua assessoria.

Durante o 7º Encontro de Ministro da Agricultura do Brics, Maggi conversou com o ministro da Agricultura da China, Han Changfu, sobre estimular mais a parceria comercial entre os países.

Já com o ministro da Agricultura da África do Sul, Senzeni Zokwana, Maggi propôs realizar encontros entre empresários dos dois países com o objetivo de facilitar oportunidades de negócios.

Do lado do país sul-africano há interesse em comercializar navios pesqueiros, vinhos e chá. Para o Brasil, a expectativa é negociar carnes suínas e bovinas, segundo a nota do ministério.

Fonte: Agência Estado

Confira na íntegra o discurso do ministro:

Muito bom-dia, Senhores excelentíssimos Ministros.
Muito bom-dia também às demais autoridades presentes e convidados.
Agradeço aos nossos anfitriões chineses pela excelente acolhida nesta bela cidade que é Nanquim. É com muita satisfação que participo de mais uma reunião com meus colegas ministros da agricultura do BRICS, na certeza que nesse encontro daremos passos firmes para estreitar nossos laços de cooperação.

Nas últimas décadas o agronegócio no Brasil evoluiu extraordinariamente. Deixamos de ser um país que desmatava para extração de madeira ou que vivia de ciclos monocultores de cana de açúcar, café e borracha para ser um dos líderes mundiais em setores como açúcar, café, suco de laranja, soja, carnes, milho, celulose e tantos outros, com sustentabilidade. Atualmente, 61% do nosso território é de vegetação nativa, contando as áreas de conservação, as áreas indígenas e as áreas que, por lei, o produtor rural é obrigado a manter intocada.

A agricultura tem dado contribuição significativa para que o Brasil cumpra as metas internacionais com as quais tem se comprometido. O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 2 da Organização das Nações Unidas (ONU) almeja acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável. Nesse sentido, desde a década de 90, o Brasil tem apresentado constante redução no seu índice de extrema pobreza. Essa conquista fez com que o País deixasse, em 2013, de ser parte do mapa da Fome da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO). Dados da Organização apontam, ainda, que o Brasil tem plenas condições de erradicar a pobreza até o ano de 2030 e esse feito extraordinário, não poderia estar sendo realizado, no caso do Brasil, sem uma agricultura eficiente e que oferece alimentos de boa qualidade a preços acessíveis à população.
Senhores Ministros, se queremos fortalecer o BRICS na área agrícola temos que intensificar o comércio e a cooperação entre nossos países e promover a inovação.

O potencial para elevar o comércio agropecuário entre os membros do nosso bloco é enorme, haja vista o crescimento que já conquistamos até então. Entretanto, apesar dos avanços, ainda há muito trabalho a ser feito para maximizar esse potencial.

Precisamos nos esforçar para sairmos deste encontro, não apenas com expectativas, mas com diretrizes para atingir resultados que beneficiem as populações que representamos. Assim, é fundamental contarmos com mecanismo eficiente para a superação de barreiras ao comércio.
Nesse sentido, é louvável que o Plano de Ação 2017-2020 estabeleça a criação de um grupo de trabalho para o monitorar e apresentar propostas concretas para ampliar os fluxos de comércio e investimento agropecuário e agroindustrial entre as nossas nações.

Nesse grupo, espero que possamos discutir temas que nós, como ministros de agricultura, podemos apresentar soluções, tais como: questões sanitárias e fitossanitárias, facilitação de comércio e a identificação de oportunidades de negócio entre as empresas de nossos países.

É importante lembrar que a ampliação do comércio pode ser solução efetiva para ampliar a produtividade, a inovação e o desenvolvimento sustentável dos países do BRICS.
Segurança alimentar é tema que não pode se limitar às fronteiras nacionais. Ao fazê-lo, os países condenam os seus consumidores a comprar produtos mais caros e a menor competição faz com que a inovação não ocorra na velocidade desejável. Além disso, o fechamento seletivo das fronteiras impede a otimização do uso dos recursos naturais do planeta, já que a maior parte da população se concentra em regiões cujos recursos naturais estão se exaurindo rapidamente. Isso sem contar o grave risco de abastecimento em países fechados ao comércio, por conta de pragas e doenças ou problemas climáticos que possam reduzir subitamente a oferta doméstica.

Não há como solucionar os desafios que se apresentam em termos de volumes que serão demandados pelos consumidores, qualidade e sanidade dos alimentos, preços acessíveis e sustentabilidade da produção mantendo pesadas restrições ao comércio de produtos agropecuários e alimentos.

Portanto, a busca por um padrão de comércio agrícola mais aberto e equilibrado deveria ser parte central da agenda de cooperação agrícola do BRICS.
Outra proposta que faço é a criação de um fórum empresarial agrícola do BRICS. Acredito que os homens e mulheres de negócios poderão nos apresentar sugestões e apontar caminhos para facilitar o comércio, com ganhos para todos.

No campo da cooperação, quero destacar a importância de colaborarmos mais intensamente na promoção da pesquisa e inovação na agricultura, pois esse é um tema fundamental para o sucesso de nossos produtores.

Nos anos 70, o governo brasileiro criou a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), para responder às demandas da agropecuária brasileira e, ao mesmo tempo, antecipar e enfrentar os desafios do futuro. Consolidamos, assim, um novo modelo de desenvolvimento agropecuário apoiado em pesquisa, desenvolvimento e inovação.
O resultado desse investimento estratégico foi o aumento exponencial da produção agropecuária, que fez com que o Brasil pudesse ser grande produtor e exportador de alimentos para mais de 150 países.

É importante ressaltar que, esse crescimento excepcional, nos últimos 40 anos, não se deu pelo uso indiscriminado das áreas disponíveis. Muitas vezes associado à degradação do meio ambiente, o setor agrícola brasileiro tem respondido aos críticos de forma contundente, aumentando a sua produtividade sem aumentar consideravelmente a área utilizada. O Brasil tem atualmente 28% do seu território dedicado à agricultura e pecuária e, enquanto a produtividade brasileira de grãos cresceu cerca de 386%, a área utilizada para a atividade agropecuária cresceu 33%, 11 vezes menos, nos últimos 40 anos.

O Brasil tem um grande orgulho em poder dizer ao mundo que a sustentabilidade é hoje uma marca da agricultura nacional
Tenho certeza que podemos aprender muito mais uns com os outros. Todos aqui presentes têm experiências a compartilhar: integrar os pequenos produtores ao mercado, agregar valor à produção agrícola, produzir alimentos e ao mesmo tempo preservar o meio ambiente. São muitas as oportunidades para podermos compartilhar nossas experiências de sucesso.
Podemos cooperar também na coordenação de posicionamentos nos fóruns multilaterais para garantir ganhos comuns mais substanciais ao agronegócio.

O Brasil está disposto a cooperar com os demais membros dos BRICS e com os organismos internacionais para enfrentar os desafios já mencionados, sendo imprescindível, entretanto, a criação de canais eficientes de colaboração com ganhos mútuos. O Novo Banco de Desenvolvimento é um importante instrumento para financiar projetos inovadores no setor agropecuário.
Todos nós temos grandes desafios para superar e o trabalho conjunto e focado nos guiará para resultados concretos deste grupo de Ministros do BRICS.

Nós do governo brasileiro nos comprometemos aqui, uma vez mais, a continuar investindo todos os esforços para promover o desenvolvimento da agricultura moderna, altamente produtiva e sustentável, dentro e fora de nossas fronteiras, por todos os benefícios que ela pode trazer, e conclamamos os países parceiros do BRICS e as organizações internacionais aqui representadas para também somarem esforços nesse objetivo e para maior abertura comercial, principalmente para os produtos agrícolas dos BRICS.