Os avanços em sustentabilidade e rastreabilidade, práticas que já fazem parte da cafeicultura brasileira, serão aliados para que o país atenda às novas regras da União Europeia, mas os desafios ainda existem. 

Este foi um dos recados dos especialistas durante a Reunião Aberta do Departamento do Café da Sociedade Rural Brasileira (SRB), realizada neste mês de junho. 

O encontro foi aberto pelo coordenador do Departamento do Café, Carlos Brando, que destacou números mundiais sobre os desafios das pequenas propriedades rurais e a importância social da atividade. A reunião teve quatro convidados, sendo que dois deles abordaram especificamente os impactos da nova regulamentação europeia na cafeicultura do Brasil. 

A representante do CNC (Conselho Nacional do Café), Natália Carr, explicou que neste mês de junho está entrando em vigor a nova legislação da União Europeia (UE), com o objetivo de que o continente seja o primeiro carbono neutro até 2050. A principal regra estabelece que os países do bloco não podem mais comprar determinadas commodities agrícolas sem que haja a comprovação de que não foram produzidas em áreas de desmatamento – e o café está na lista. 

“Foram ao todo seis produtos nesta primeira lista, mas deverá haver outras. Até se questionou a inclusão do café, mas os europeus optaram por manter o produto em função de serem importantes consumidores”, explicou Carr. 

Marcos Matos, diretor geral do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil), disse estar otimista pelo fato de, em evento internacional recente, ter ouvido por parte de diferentes países, inclusive os concorrentes do Brasil, de que o café brasileiro deve ganhar espaço neste cenário, já que o país “é o mais preparado”. Ele disse que o Cecafé monitora 97% das exportações e que é possível comunicar que o café nacional é sustentável e tem rastreabilidade. 

As empresas europeias de maior porte têm prazo de 18 meses a partir de agora para se adequar e começar a cumprir a regra. “O que está por definir é como vai se dar na prática a classificação de risco de mercados e mercadorias, já que se sabe que alguns serão ‘baixo’, outros ‘padrão’ e outros ‘alto risco’, além também de parâmetros para rastreabilidade e o tipo de fiscalização”, alertou Vinicius Estrela, diretor executivo da BSCA, entidade que representa o setor de cafés especiais. 

Todos concordam, porém, que haverá custos administrativos na cadeia produtiva e que falta esclarecer quem pagará por isso e quem ficará com os dados. Para o CNC, o prazo de 18 meses é uma oportunidade de preparar projetos e buscar recursos até mesmo junto aos europeus para iniciativas como o Pagamento por Serviços Ambientais e o mercado de carbono, para que seja possível às empresas cumprir a legislação. 

A reunião do Departamento de Café também contou com uma apresentação de Pedro Ronca, diretor da consultoria P&A, com os resultados de uma pesquisa sobre renda de bem-estar dos cafeicultores realizada pela Plataforma Global do Café, Cecafé e InPACTO. Os resultados reforçam que nas principais áreas de Minas Gerais e Espírito Santo, a maioria dos cafeicultores recebem bem mais que a renda de bem-estar.

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