Para participantes de painel no Ethanol Summit, País ainda enfrente desafios rumo a uma economia de baixo carbono, mas reúne potencial para cumprir as metas e abrir janela de mercado
Representantes do setor produtivo e especialistas em meio ambiente acreditam que o Brasil está no caminho certo para cumprir os compromissos firmados no Acordo de Paris (COP 21), em 2015. O País ainda precisa superar alguns entraves para obter resultados concretos rumo à economia de baixo carbono, mas reúne recursos suficientes para reduzir os impactos ambientais e aproveitar as oportunidades de mercado. Essa foi uma das constatações dos participantes do painel “NDC e os Compromissos Ambientais do Brasil”, realizado esta semana no Ethanol Summit, em São Paulo, considerado um dos maiores eventos voltados para discussão de energias renováveis do mundo.
Durante o painel, moderado pelo presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Marcelo Vieira, o dirigente falou sobre a importância de desenvolver políticas públicas confiáveis e de longo prazo para viabilizar os investimentos. As metas, chamadas de Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês), preveem ações como redução do desmatamento, restauração de pastagens degradadas e crescimento de energias renováveis na matriz energética brasileira. Para o presidente da SRB, o setor produtivo já está se deslocando para soluções de baixo carbono: “Temos uma das produções mais socialmente sustentáveis do mundo. Precisamos mostrar esse potencial no mercado externo e captar investimentos para financiar essa economia de baixo carbono”.
Uma das alternativas debatidas no painel para viabilizar os investimentos é o mercado de investimentos em projetos considerados sustentáveis, como infraestrutura de energia limpa e renovável, transporte verde e outras soluções de baixo carbono em todo o planeta capazes de viabilizar a redução de emissões. Esses investimentos podem ser feitos por meio dos chamados títulos verdes, também conhecidos como green bonds, que são papeis de dívida e considerados uma alternativa de investimento para financiar ativos de impacto ambiental positivo. Segundo dados do Climate Bonds Initiative (CBI) divulgados durante o painel, o Brasil deve registrar US$ 5 bilhões de green bonds em 2017, emitidos por empresas de todos os portes. A China, atual líder na emissão desse tipo de título, atingiu o patamar de US$ 36 bilhões em 2016, volume que o Brasil pode alcançar caso comece a estruturar projetos de longo prazo. “Temos uma carteira de ativos naturais incomparável com qualquer outro país”, disse Thatyanne Gasparotto, gerente de relacionamento do CBI.
Para que a economia de baixo carbono ajude a colocar em prática os compromissos do Brasil, o diretor da Agroícone, André Nassar, defende que o País apoie iniciativas para construir uma agenda de longo prazo, como o Código Florestal e o Renova Bio. “O setor produtivo e a sociedade só têm a ganha com isso”, indica Nassar. Para a presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Marina Grossi, o Brasil deve começar a se planejar agora para se tornar o principal player global do mercado de biocombustíveis. “NDC e economia de baixo carbono não são pautas de um ou outro governo, são questões de longevidade”, diz Marina.
O secretário do Meio Ambiente de São Paulo, Ricardo Salles, ponderou que o Brasil poderia estar avançando com mais velocidade rumo a uma economia de baixo carbono. “Há um gap entre os compromissos do NDC e a realidade do nosso dia a dia”, disse Salles quando se referia a divergências jurídicas que impedem a implementação integral do Código Florestal e do Programa de Regularização Ambiental (PRA) no Estado. “Sabemos que o Código não é perfeito, mas foi um consenso que pacificou o tema”, avalia o secretário.
Para o coordenador da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, Marcelo Furtado, o País precisa de mais engajamento da sociedade para transformar seu potencial em energias renováveis em vantagens econômicas. “Precisamos do apoio da população como atores de transformação, consumidores e investidores”, diz Furtado.