A Sociedade Rural Brasileira (SRB) reuniu as principais lideranças da indústria do café no País para um importante debate sobre a exportação dos produtos industrializados “com marca”. Este foi o tema de mais uma reunião do Departamento de Café da SRB, que contou com a participação dos dirigentes da ABIC (Associação Brasileira da Indústria do Café), Abics (Associação Brasileira da Indústria do Café Solúvel) e a BSCA, que representa o setor de cafés especiais.

O presidente da ABIC, Pavel Cardoso, disse que o Brasil produz 40% do café do mundo, mas quando se observa a riqueza gerada pelo produto em dólares, fica com apenas 16%. “A Colômbia que produz 6 vezes menos café que o Brasil, tem a metade da nossa receita. E países que nem produzem café, como a Alemanha, ficam com 8% do que podemos chamar de PIB mundial do café, já que processam e exportam”, destacou Pavel.

De acordo com a ABIC, o café torrado e moído respondeu de janeiro a junho deste ano a 0,1% das exportações brasileiras do produto, enquanto o arábica “verde”, a commodity café, ficou com 85%. O presidente da entidade acredita que para recuperar a agregação de valor é necessário investir mais forte na imagem do café brasileiro no exterior, que ainda não é reconhecida. “Há clientes que preferem tirar o Brasil do rótulo para colocar América do Sul, isso precisa mudar”, contou Pavel Cardoso.

Os dirigentes também destacaram desafios de competitividade já que o Brasil enfrenta, por exemplo, tarifas mais altas para o café processado. Na União Europeia, aplica-se tarifa média de 7,5% para o produto industrializado brasileiro enquanto o café verde tem tarifa média zero.

Aguinaldo José de Lima, diretor de Relações Institucionais da Abics, ressaltou que o número de empresas de solúvel atuantes no Brasil foi reduzido, e o foco passou a ser o B2B, já que era difícil manter a competitividade das marcas ao consumidor final considerando as variáveis de distribuição e marketing. Ele revelou, por exemplo, que uma das grandes dificuldades da indústria de café solúvel é ter acesso a embalagens de vidro, produto que é caro e escasso, sendo em algumas cadeias suprido por importações.

O diretor executivo da BSCA (Associação Brasileira de Cafés Especiais), Vinicius Estrela, defendeu políticas de fomento que a ajudem a destacar qual é o diferencial competitivo das marcas brasileiras, assim como já ocorreu em outras cadeias, como na proteína animal, inclusive com recursos do BNDES.

O encontro foi liderado pelo coordenador do Departamento do Café da SRB, Carlos Brando. Segundo ele, “ficou claro que todos os convidados acreditam que é necessário investir mais na promoção do café brasileiro lá fora”. Brando acredita que os consumidores internacionais precisam ser informados sobre a procedência do café que estão adquirindo, mesmo que a divulgação não seja por marcas mas esclarecendo que cafés de qualidade são produzidos no Brasil.