Por João Adrien, Diretor da Sociedade Rural Brasileira (SRB), para a Agroanalysis.

O cenário de renovação política que marcou as últimas eleições tem tudo para impor uma nova dinâmica no Congresso Nacional. A expressiva taxa de renovação – de 51% na Câmara dos Deputados e 85% no Senado – superou qualquer projeção dos especialistas em política. A democratização das mídias sociais deu voz a uma população insatisfeita, que clamava por profundas transformações no Executivo e no Legislativo.

A renovação influenciou também a composição da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que teve menos de 38% dos deputados reeleitos. Como em qualquer período de transição, as mudanças podem assustar em um primeiro momento, mas há bons motivos para acreditar que a nova cara da política brasileira poderá deixar o agronegócio ainda mais forte e representativo.

É certo afirmar que a renovação não contribuiu para a reeleição de alguns deputados e senadores historicamente ligados ao setor, mas, por outro lado, contribui para que outros nomes tenham a chance de mostrar serviço. Percebemos um crescimento expressivo de políticos eleitos com uma visão pró-mercado, vindos de partidos de centro-direita e direita, inicialmente alinhados com reinvindicações e anseios do setor agropecuário.

Vale ressaltar que no chamado “núcleo duro da FPA”, que reúne os deputados e senadores mais atuantes em prol do setor, a reeleição foi superior, chegando a 45%. O percentual aponta para um sucesso maior dos políticos que efetivamente se aproximaram do trabalhador do campo. O recado foi claro: o produtor rural está atento ao trabalho desempenhado no Congresso e consegue ter a percepção de quem de fato está alinhado aos desafios da atividade.

Quando o Congresso estiver efetivamente montado, caberá às entidades do setor prestar apoio técnico e de comunicação à FPA no sentido de aproximar os novos parlamentares da dinâmica da bancada. Este trabalho já vem sendo feito intensivamente em Brasília dentro do Instituto Pensar Agro (IPA), suporte este que será essencial para os deputados e senadores que ainda não conhecem a fundo o funcionalismo do Congresso.

A única certeza que temos é que 2019 não será um ano fácil. Estamos nos preparando para um período de reformas complexas, mas extremamente importantes para a uma gestão mais eficiente dos recursos públicos. Temas relevantes para o setor entrarão em pauta, como o licenciamento ambiental, a compra de terras por estrangeiros e a nova lei dos defensivos agrícolas.

Mais do que nunca, precisamos que os produtores rurais estejam engajados e atentos às decisões políticas que influenciam a atividade. Caberá às associações e cooperativas do setor chamá-los para participar das discussões, sobretudo agora com o fim da contribuição sindical obrigatória. Nesta nova realidade democrática, cabe ao produtor a opção de escolher se quer contribuir, com quanto vai contribuir e com quem vai contribuir.

Nosso desafio será nos manter conectados para não permitir que o setor se fragilize. O momento não é oportuno para se declarar isento da política. A democracia, para ser vivida plenamente, exige um comprometimento à altura da importância do agronegócio para o Brasil. Caso contrário, seremos comandados por quem não conhece a realidade do nosso setor.

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