O impacto das tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos do agronegócio do País foi o tema central da reunião do Comitê de Mercado e Finanças da Sociedade Rural Brasileira (SRB), realizada no último dia 30 de setembro, em formato híbrido — participação presencial na sede da entidade, em São Paulo, capital, além da transmissão online.
O encontro teve a apresentação do vice-presidente da SRB, Marcelo Junqueira e como convidados especiais a superintendente de relacionamento com corretoras e empresas do agronegócio da B3, Fabiana Perobelli, o head de agro, alimentos e bebidas da XP, Leonardo Alencar e o analista de investimentos do Itaú BBA, Bruno Tomazetto.
O objetivo foi analisar como as políticas tarifárias adotadas pelo governo norte-americano, especialmente a taxa de 50% sobre diversos produtos brasileiros adotada na gestão de Donald Trump, estão afetando as exportações do Brasil e o desempenho das empresas do setor listadas na bolsa de valores.
Foram abordados os impactos sobre cadeias como carne bovina, soja, açúcar e etanol, além de estratégias adotadas pelas companhias para diversificação geográfica e mitigação de riscos. O debate também abordou questões de concentração de mercado e dependência de mercados internacionais, com destaque para os desafios enfrentados por grandes players como JBS, Marfrig, Minerva, BRF e Raízen.
Leonardo Alencar, da XP, destacou que empresas que abrem o capital na bolsa normalmente possuem uma diversificação de mercados, o que costuma atrair investidores. Nesta linha, abordou o comportamento das ações de empresas como JBS e Marfrig, depois que entraram em vigor as tarifas de Trump. “Para a JBS, no Brasil, o impacto foi imaterial”, afirmou. Como a empresa é forte em diversos países, acaba conseguindo amenizar eventuais mudanças do fluxo de exportação em meio às tarifas.
Ele ponderou, porém, que a forte atuação da JBS nos EUA ainda poderá ser afetada caso países como Canadá e México, que fornecem gado vivo para as plantas americanas, adotem tarifas retaliatórias. “Nenhum investidor compraria ação de uma empresa que vende 70% de sua produção para um mercado só”, explicou.
O executivo da XP também fez uma avaliação positiva da Marfrig, que no último ano foi beneficiada pela melhora nos resultados da BRF. “Há chance de fechar o ano sem queda nas exportações, mesmo com gripe aviaria, algo inédito, porque o mercado internacional para frango segue muito forte”, ressaltou.
Bruno Tomazetto, analista de investimentos do Itaú BBA, avaliou durante a sua apresentação que os efeitos do tarifaço foram relativamente contidos. Segundo o analista, a diversificação geográfica e de proteínas funcionou como “vasos comunicantes”. “Quando um mercado ou produto sofre restrição, outros segmentos acabam compensando”, afirmou.
“É por isso que a JBS costuma aparecer como neutra nos choques. Nunca é a mais beneficiada, nem a mais prejudicada”, destacou. Isso porque que eventuais perdas nas exportações de carne bovina do Brasil para os americanos podem ser neutralizadas pelas operações de frango e bovinos da própria companhia nos EUA.
Houve também espaço para análise do prêmio da soja, diante da queda nas cotações de Chicago, e da tendência de desvalorização das terras agrícolas prevista até 2026.