A Sociedade Rural Brasileira apoia o discurso proferido ontem pelo Ministro da Agricultura, Blairo Maggi, em mesa redonda durante a COP13, realizada em Cancun, no México. No evento, Blairo Maggi falou sobre o desafio de integrar a biodiversidade na produção ao agrícola. Assim como Gustavo Diniz Junqueira, presidente da SRB, vem defendendo em posicionamentos da entidade, o ministro também mencionou como é um desafio caro e difícil para o Brasil manter 250 milhões de hectares protegidos renunciando à sua exploração.

Para Gustavo Junqueira, se o comércio mundial não mudar a dinâmica e as regras, o agro brasileiro não será competitivo, “pois estamos aumentando custos em uma velocidade maior do que o ganho de produtividade”. “Importante proteger, mas precisamos ter ganho de produtividade e preço. Precisamos mudar a dinâmica de comércio mundial da preferência da localidade para o método de produção. Sem isso, a sustentabilidade continuará às margens da produção convencional”, diz o presidente da SRB.

Confira a íntegra do discurso do Ministro Blairo Maggi, abaixo:

Boa tarde, senhoras e senhores distintos delegados.

É um grande prazer poder, em nome do Ministério da Agricultura, Recuaria e Abastecimento do Brasil, me manifestar nesse evento.
A perda de biodiversidade no planeta é algo que preocupa a todos, em especial aos agricultores que tanto dependem de diversidade biológica para suas atividades.
Estamos num estágio em que cada setor da sociedade deve se engajar na proteção da biodiversidade e no seu uso sustentável, fazendo o que estiver ao seu alcance para o planeta atingir as Metas de Aichi.
Mas também é época de buscarmos integração e sinergias entre setores. Pensar de forma abrangente como se pode alimentar 9 bilhões de pessoas até 2050, com qualidade nutricional, sem aumentar a perda da biodiversidade mundial.
O Brasil tem encarado este desafio de forma muito determinada. Nosso país é recordista mundial em áreas protegidas, com 30% do seu território dedicados a unidades de conservação e terras indígenas, que abrigam substancial diversidade biológica.
No Brasil, a fauna selvagem está integrada aos sistemas de produção, graças a práticas como exploração de pastagens nativas, proteção de mananciais hídricos, controle biológico, proibição da caça e melhoria de habitats.
Nesse momento estamos realizando grandes investimentos no aumento da produtividade das áreas já em uso. A intensificação sustentável, em diversos sistemas produtivos, já nos permite fazer uso eficiente dos recursos naturai, incluindo o solo, a água e as fontes renováveis de energia.
Apesar dos muitos avanços, temos a consciência de que a agricultura brasileira ainda tem muitos desafios a vencer. Por isso viemos aqui para trocar conhecimentos.
Uma das lições que podemos compartilhar, é que vale a pena investir em tecnologia, em pesquisa, desenvolvimento e inovação. A experiência brasileira, por meio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa, é muito positiva.
O investimento na pesquisa agropecuária permitiu muitos avanços, entre eles o de aumentar em 220% a produtividade de grãos no Brasil nos últimos 38 anos, o que permitiu poupar cerca de 150 milhões de hectares e reduzir a pressão sobre os nossos biomas. Isso é o resultado da tecnologia, a qual aprendemos a valorizar como solução para problemas complexos.
Outra lição que aprendemos é que vale a pena integrar a biodiversidade na produção agrícola. No Brasil, entre 20% e 80% das áreas das propriedades rurais é de vegetação nativa, mantida por Lei para a preservação da biodiversidade. Chamamos isso de Reserva Legal.
As margens de rios e mananciais também são protegidas com vegetação nativa, e chamamos isso de Área de Preservação Permanente.
Portanto, a nação brasileira optou por dedicar substancial parte de seu território para proteger a biodiversidade. A maioria dessas áreas têm grande potencial produtivo, não são desertos ou locais inóspitos. Mas ainda assim são mantidas inexploradas.
Ao contrário das áreas protegidas de muitos países, o sistema brasileiro de áreas protegidas proíbe a presença de cidades, atividades industriais, mineradoras, ou agronegócios.
A legislação brasileira ainda prevê, no entorno das áreas preservadas, uma zona de amortecimento de até 10km, com diversas restrições para o uso das terras. É um desafio caro e difícil para o país manter 250 milhões de hectares protegidos, renunciando à sua exploração.
Assim, hoje temos no Brasil 61% do território com vegetação nativa, sendo que 11% desse total são preservados pelos próprios agricultores e pecuaristas, em suas fazendas.
Essas áreas ajudam a manter a biodiversidade nas propriedades privadas, e a preservar as fontes de água, outro recurso natural muito importante para os agricultores.
Neste momento de intercâmbio de experiências, em que temos aprendido muito, aproveitamos para convidar nossos amigos de outros países, para que conheçam nossa experiência sobre Reserva Legal e áreas de preservação nas fazendas.
Esperamos que essa experiência possa inspirar outros países a adotar legislações similares, para a conservação da água, e a proteção da diversidade da fauna e da flora, por meio de corredores ecológicos.
Por fim, reafirmo que estamos aperfeiçoando as ações para a proteção da biodiversidade, de forma concreta, em todas as atividades da nossa agropecuária.
Temos investido neste caminho, e vamos continuar avançando nele. Esse é o desejo da sociedade brasileira. Convidamos a todos a também seguir neste caminho, aprendendo juntos, integrando esforços.

Da mesma forma, gostaríamos que nossos agricultores, e os sistemas produtivos brasileiro, fossem reconhecidos pelo que representam para a preservação da biodiversidade, e dos recursos naturais do planeta.

Nesse sentido, reiteramos a nossa posição de que as regras do comércio internacional sejam repensadas, de forma a valorizar e recompensar os países que de forma concreta, preservam e valorizam a sua biodiversidade e os serviços ambientais dela decorrentes.

Eu agradeço a sua atenção e desejo a todos produtivas discussões.
Ministro Blairo Maggi